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Ensaios de psicanálise e alguma poesia

Ano: 2024

Autor: Fábio Belo

Editora: INM Editora

 

               Fabio Belo elaborou um livro que reúne textos de uma escrita fluida e potente sobre temas psicanalíticos variados, trata sobre masoquismo, o ódio, o desejo, a política, o processo de uma análise com os enlaces da transferência, do amor e dos lapsos. O autor aborda de uma maneira familiar e envolvente, quase como uma conversa, assuntos delicados, tocantes e (des)conhecidos, trazendo sua identificação teórica com psicanalistas pós-freudianos como Laplanche, Ferenczi e Klein.

               As linhas harmoniosas são permeadas por um dizer como tem que ser dito, sem rodeios, e revela uma escuta poética, sensível e com um pé na academia, ao trazer suas hipóteses, suas reflexões, a meu ver com o intuito de justamente provocar o leitor a pensar junto, a se questionar. O autor costura com a clínica as temáticas do fetichismo e do obsessivo, por exemplo, mas aborda temas políticos compartilhados por todos como a violência do homem heterossexual contra a mulher, do racismo, do medo do negro ser alvejado pela polícia. Observa-se em sua escrita o crédito da influência da camada social em que vivemos no Brasil, não se refere apenas de violência do pulsional, do Sexual, mas de uma contextualização da sociedade em que vivemos.

            Trata-se de uma leitura leve no que diz respeito ao estilo coloquial da escrita, permite aproximarmo-nos de nossos demônios internos, abraçarmos a complexidade de um emaranhado de signos da vida psíquica, entremeada numa profundidade e numa robustez que uma frase de poucas linhas é carregada de significados, como: “ou bem se perde / {uma parte de si} / ou mal se vive” (p. 253). Tanto nos poemas quanto nos textos, por vezes o leitor pode sentir necessidade de dar um tempo para metabolizar o que leu, pois é tocante, fazer um movimento de buscar representações internas para traduzir e dar sentido, e em outros pode ficar enigmático. “É as duas coisas ao mesmo tempo: saber mais e não saber, ou melhor, saber mais o quanto não sabe... isso ainda é uma forma de saber” (p. 47) e acrescento: a potência do não saber abre vias de possibilidades e de novas construções de si.

               Ensaios de psicanálise e alguma poesia é, portanto, endereçado a colegas da psicanálise, mas também a todos que se sintam abertos para escutar o que está escrito no livro de Belo e escutar a si mesmo, o que toca e o que põe em marcha do lado de dentro e do lado de fora, no consultório e na relação com os pares.

Resenha publicada na seção Biblioteca do número 23 d`A Gazeta, publicação trimestral interna da Constructo Instituição Psicanalítica. Disponível online, clique aqui.

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